segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Dor

Corta, lateja, pulsa

como algo que perfura, mas não sangra.

Machuca, marca, fere

como ferida exposta, incomoda.

Não há remédio, não há cura

ardendo sigo a procura de algo que amenize.

Em vão, olhos em púrpura cor

peito aquiescendo com essa dor.

Clamo, aflita...Não há resposta.

Atormentada, ando sem rumo.

Procuro, anseio, apenas pela luz que outrora me oferecera.
Eu quero cheiro, quero braços e calor de outro corpo...

quero gosto, quero laços e enlaço, quero o mundo...

quero as nuvens, as estrelas e a lua...

e as manhãs alegres a tocar o meu rosto.

Quero o brilho nos olhos, as flores nos jardins e janelas sem grades...

um rio a correr, o orvalho fresco e uma leve brisa...

a inocência da criança e astúcia da águia...

Quero o mar e a alma lavada.

Quero a alegria da chegada e a emoção da partidaquero a saudade...

quero todas as dúvidas e o caminho para saná-las.

Quero a vida, vivida, gasta, exausta...

domingo, 23 de agosto de 2009

grito para fugir de toda inércia que me cerca

grito para afastar o vazio insalubre desse momento

grito para suprimir de mim o silêncio dilacerante da ausência

grito na ânsia de alcançar uma presença palpável e segura...

sábado, 22 de agosto de 2009

Passada a euforia carnavalesca, enfim pude me encher de expectativas e planos para o recém ano.

Era manhã e fazia sol. A sala estava cheia de olhos cansados, daqueles que acusavam uma noite insone. Meu entusiasmo era evidentemente maior do que qualquer um daqueles olhos.

Porém aquela atmosfera ora pálida deu lugar a risos e lembranças. Dispensava apresentação, salvo alguns olhos novos que pude perceber tão iguais aos já conhecidos.

Risos passados era hora do trabalho. Percebi que mesmo não sendo novidade para eles havia muita dificuldade sobre o assunto e mal tinha começado. Depois de muitas perguntas e um enorme e desesperador silêncio, resolvi indagar: - Por que perguntamos? Novo silêncio. Insisti, alguns zumbidos e muita falta de coragem. Enfim: - Por que temos dúvidas, dona. – E por que temos dúvidas? Risos e um sonoro: - Filosofia é coisa de louco, só tem perguntas difíceis. Riso geral.

- Sim, sim, perguntas difíceis. Mas a todo o momento temos dúvidas, das mais banais às mais complexas. Temos necessidade de saber, somos animais complexos, vivemos em sociedade e temos dificuldade de conviver com os outros, temos desejos, fantasiamos, temos esperanças, ambições, paixões. Isso tudo gera dúvidas...

A sala parecia mais leve e todos mais à vontade. Tentei permanecer nesse caminho e fazer com que perdessem o medo de falar também. Infelizmente o tempo pode ser nada amistoso e nada suficiente quando é preciso.

Novas semanas e novos assuntos permeavam os alunos.

Ética, Moral!! Bicho de sete cabeças! Descartes, Sócrates, Aristóteles, Epicuro! Textos excelentes, mas muitas das vezes ininteligíveis para qualquer universitário, em folhas tão bem propagandeadas. Questões tão questionadoras quanto um episódio global vespertino!
Recusei-me a seguir tais absurdos.

- Mas a orientação é essa, professora. É preciso seguir o material.

- Mas como? Não nos dão alternativas, não há como se questionar nada, é aceitar os textos como verdade absoluta e os questionários inúteis?

- Sim, infelizmente.

Desde então, me subverti!!!

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

De encantos olhares nunca vistos,
Às palavras de encanto reluzidas.
De pesares em cantos recolhidos,
A cantos em liras enternecidas.
De prantos e dores sombrias,
À esperança e coragem enobrecidas.
Do conhecimento aos ternos laços.
Do tempo, do vento, da vida.

Da aurora orvalhada ao crepúsculo avermelhado,
Da brisa fria do equinócio ao sopro quente veraneado.
A cada estrela pintada no véu da noite,
A cada fechar de olhos do velho dia.
De cada bater de asas coloridas,
A cada acorde da sinfonia,
De cada verso da poesia.
Com o tempo, com o vento, com a vida.

Das incertezas de um novo ano,
Das alegrias ao fim do dia,
Do sabor de todas as cores,
Até a chuva do meio dia.
Quer traga impiedosos espinhos,
Quer traga rosas em carne viva,
Que persista às voltas e idas.
Para o tempo, para o vento, para a vida.

domingo, 16 de agosto de 2009

O tempo

- O que olha tanto para essa parede?
- Não vê? O relógio...
- O que tem ele?
- Parou...
- E?
- O tempo também, não percebe?
Ambos pararam e contemplaram a maravilha do tempo inerte...

sábado, 8 de agosto de 2009

Pensando em Caio

- Só mais quatro cigarros e o resto da noite pela frente. Ela repetia isso consigo. Seguindo o ritmo e os desabafos alheios. Opiniões se misturavam às canções, poesias se misturavam às lamentações, enquanto ela ria e se pintava.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Aleatório

O sol queimava tua boca e atrapalhava tua visão, mas continuou andando. Perdido? Não, sabia bem para onde ir. Buscava, entre pedras, poeira e asfalto, suas pegadas deixadas e folhas esparramadas. Apanhando, uma a uma, colocava de volta em seu devido lugar.Palavras não ditas, palavras esquecidas, palavras arrependidas.As pegadas foram se apagando a cada folha resgatada, assim como cada temor sentido diante do caos em que outrora se encontrava.Agora restavam páginas em branco e um por do Sol. O suficiente para recomeçar...

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

"Os homens são tão necessariamente loucos que não ser louco seria uma outra forma de loucura. Necessariamente porque o dualismo existencial torna sua situação impossível, um dilema torturante. Louco porque tudo o que o homem faz em seu mundo simbólico é procurar negar e superar sua sorte grotesca. Literalmente entrega-se a um esquecimento cego através de jogos sociais, truques psicológicos, preocupações pessoais tão distantes da realidade de sua condição que são formas de loucura — loucura assumida, loucura compartilhada, loucura disfarçada e dignificada, mas de qualquer maneira loucura."

Ernest Becker, A negação a morte.