sexta-feira, 30 de março de 2012

Já não adiantava mais procurar. Foi embora. Deixou tudo, livros, discos, cartas, roupas, fotografias, poesias e esperança.
A princípio pensava que era passageiro, todos precisam de um tempo, espaço, novos ares, mas o vazio era tão profundo que o fio que a alimentava quase já não a alcançava.
Tudo estava ali, não do jeito que ela deixou ao partir, mas estava.
Todas as lembranças, cada momento transcendido permanecia vivo em algum lugar daquele corpo, mas ela partiu levando consigo a fonte de onde tirava sua força para viver e encarar a realidade, essa dos dias que se seguem em um calendário ordinário.
Quando eram uma só pessoa, a realidade era inventada e o tempo era música, compassada, contra-tempo. De lá a sol, sem dó, nem ré. De suspiros sustenidos.
Agora não era nem metade, apenas um corpo a mover-se de teimoso, a olhar para o tudo e ver nada, a fazer contas ao final do mês e se espantar com o preço do tomate na feira.
Uma noite ou outra ela se lembra da vida passada e implora: "Volta, alma, para esse corpo que abandonaste, sinto tua falta".
E não dorme a noite inteira.

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