segunda-feira, 7 de setembro de 2009


Despida
De toda
Loucura
Nua e tua
Agora sou.
Tua boca
Teus braços
Teus laços
Teu corpo
Dentro de mim
A queimar a alma
Acalma e ameniza
Flutuo nesse aroma.
Embriago-me de teu suor
Que escorre, que lava e me encobre.
Agora me olha como se fosse a última vez
Agora me respira como se eu fosse o único ar
Agora me saboreia como ao primeiro manjar sobre a mesa.
Novamente me vejo amparada por sua força
Novamente sinto ser invadida, possuída
Novamente me perco em seus olhos
Sucumbida diante dessa força
Afogo-me, embevecida
Turva as minhas vistas
Confunde e agoniza
Mas estremece-me
O peito e a alma
Sequestra-me
Meu corpo
Meus laços
Meus braços
Minha boca
Agora és
Nu e meu
Louco
De todo
Despido.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Dor

Corta, lateja, pulsa

como algo que perfura, mas não sangra.

Machuca, marca, fere

como ferida exposta, incomoda.

Não há remédio, não há cura

ardendo sigo a procura de algo que amenize.

Em vão, olhos em púrpura cor

peito aquiescendo com essa dor.

Clamo, aflita...Não há resposta.

Atormentada, ando sem rumo.

Procuro, anseio, apenas pela luz que outrora me oferecera.
Eu quero cheiro, quero braços e calor de outro corpo...

quero gosto, quero laços e enlaço, quero o mundo...

quero as nuvens, as estrelas e a lua...

e as manhãs alegres a tocar o meu rosto.

Quero o brilho nos olhos, as flores nos jardins e janelas sem grades...

um rio a correr, o orvalho fresco e uma leve brisa...

a inocência da criança e astúcia da águia...

Quero o mar e a alma lavada.

Quero a alegria da chegada e a emoção da partidaquero a saudade...

quero todas as dúvidas e o caminho para saná-las.

Quero a vida, vivida, gasta, exausta...

domingo, 23 de agosto de 2009

grito para fugir de toda inércia que me cerca

grito para afastar o vazio insalubre desse momento

grito para suprimir de mim o silêncio dilacerante da ausência

grito na ânsia de alcançar uma presença palpável e segura...

sábado, 22 de agosto de 2009

Passada a euforia carnavalesca, enfim pude me encher de expectativas e planos para o recém ano.

Era manhã e fazia sol. A sala estava cheia de olhos cansados, daqueles que acusavam uma noite insone. Meu entusiasmo era evidentemente maior do que qualquer um daqueles olhos.

Porém aquela atmosfera ora pálida deu lugar a risos e lembranças. Dispensava apresentação, salvo alguns olhos novos que pude perceber tão iguais aos já conhecidos.

Risos passados era hora do trabalho. Percebi que mesmo não sendo novidade para eles havia muita dificuldade sobre o assunto e mal tinha começado. Depois de muitas perguntas e um enorme e desesperador silêncio, resolvi indagar: - Por que perguntamos? Novo silêncio. Insisti, alguns zumbidos e muita falta de coragem. Enfim: - Por que temos dúvidas, dona. – E por que temos dúvidas? Risos e um sonoro: - Filosofia é coisa de louco, só tem perguntas difíceis. Riso geral.

- Sim, sim, perguntas difíceis. Mas a todo o momento temos dúvidas, das mais banais às mais complexas. Temos necessidade de saber, somos animais complexos, vivemos em sociedade e temos dificuldade de conviver com os outros, temos desejos, fantasiamos, temos esperanças, ambições, paixões. Isso tudo gera dúvidas...

A sala parecia mais leve e todos mais à vontade. Tentei permanecer nesse caminho e fazer com que perdessem o medo de falar também. Infelizmente o tempo pode ser nada amistoso e nada suficiente quando é preciso.

Novas semanas e novos assuntos permeavam os alunos.

Ética, Moral!! Bicho de sete cabeças! Descartes, Sócrates, Aristóteles, Epicuro! Textos excelentes, mas muitas das vezes ininteligíveis para qualquer universitário, em folhas tão bem propagandeadas. Questões tão questionadoras quanto um episódio global vespertino!
Recusei-me a seguir tais absurdos.

- Mas a orientação é essa, professora. É preciso seguir o material.

- Mas como? Não nos dão alternativas, não há como se questionar nada, é aceitar os textos como verdade absoluta e os questionários inúteis?

- Sim, infelizmente.

Desde então, me subverti!!!

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

De encantos olhares nunca vistos,
Às palavras de encanto reluzidas.
De pesares em cantos recolhidos,
A cantos em liras enternecidas.
De prantos e dores sombrias,
À esperança e coragem enobrecidas.
Do conhecimento aos ternos laços.
Do tempo, do vento, da vida.

Da aurora orvalhada ao crepúsculo avermelhado,
Da brisa fria do equinócio ao sopro quente veraneado.
A cada estrela pintada no véu da noite,
A cada fechar de olhos do velho dia.
De cada bater de asas coloridas,
A cada acorde da sinfonia,
De cada verso da poesia.
Com o tempo, com o vento, com a vida.

Das incertezas de um novo ano,
Das alegrias ao fim do dia,
Do sabor de todas as cores,
Até a chuva do meio dia.
Quer traga impiedosos espinhos,
Quer traga rosas em carne viva,
Que persista às voltas e idas.
Para o tempo, para o vento, para a vida.

domingo, 16 de agosto de 2009

O tempo

- O que olha tanto para essa parede?
- Não vê? O relógio...
- O que tem ele?
- Parou...
- E?
- O tempo também, não percebe?
Ambos pararam e contemplaram a maravilha do tempo inerte...